quarta-feira, 29 de maio de 2013

criaturas da caverna

Essa foto foi tirada em 1895 por um fotógrafo/espeleogista amador chamado Oren Jeffries, enquanto explorava uma seção não mapeada das Grandes Cavernas, no Sudoeste da Virginia.

Na época que foi tirada, Jeffries estava fazendo experimentos fotográficos, usando longas exposições para ver se algo poderia ser fotografado em total ausência de luz. Ele ficava de pé em um lugar estável, desligava seu lampião, e abria a lente de sua câmera feita em casa pelo maior período que conseguisse ficar na escuridão.

Durante um desses experimentos, ele ouviu algo se aproximando dos cantos mais profundos da caverna. Assustado, Jeffries abandonou o seu experimento depois que usou um flash de pólvora  dentro da caverna.
De acordo com o relato que ele deu para o jornal local, Jeffries viu três criaturas "humanoides" nas sombras o encarando e ele correu na direção oposta até que tivesse fora da caverna. Alguns dias depois ele voltou com mais três homens para buscar sua câmera e o lampião que tinham ficado lá. 

Essa imagem estava no filme.

o aviso da mamãe

Minha mãe sempre me proibiu de abrir a porta do porão, mas eu queria saber o que estava fazendo aquele barulho lá em baixo, porque fazia um barulho parecido com de cachorrinho e eu sempre quis ter um cachorrinho, então eu abri a porta do porão e desci um pouquinho os degraus, eu só queria dar uma espiada no cachorrinho, só isso.


Eu não vi o cachorrinho então mamãe veio e me puxou os degraus a cima e gritou para eu nunca mais ir lá em baixo de novo, nunca nunca nunca. Mamãe nunca tinha gritado antes comigo assim então fiquei assustado e chorei. Ela pediu desculpas e me deu biscoitos. Era de gotas de chocolate que é o meu favorito, e eu já estava me sentindo melhor, então não perguntei porque o menino no porão estava chorando como um cachorrinho ou porque ele não tinha mãos nem pés.


sábado, 25 de maio de 2013

os Gêmeos


Não sei o que dizer ao relatar algo assim, simplesmente o medo ainda me mantém paralisado e sem reações definidas as quais eu deveria tomar uma atitude e rápido, porém, até então não tenho muita escolha além de continuar com a vida normal que um dia eu tive... Quando eu ainda lembrava meu nome.

Para falar a verdade minha vida nunca foi normal como a de qualquer outro garoto de 16 anos deveria ser, mesmo assim sempre tentei ignorar pequenos detalhes que hoje viraram o problema que assombra meu presente. Detalhes que eu sempre denominei como o meu casal de irmãos gêmeos mais novos.

Claro que todo mundo tem seus problemas comuns de família, pequenas brigas alheias entre irmãos e tudo mais, porém, o meu caso é diferente. Eu não tenho essas brigas entre irmãos nem nada, pelo contrário, eu bem que queria ter, tornaria minha vida mais normal e menos preocupante. Pode parecer estranho da minha parte, mas eu acho ainda mais estranho ter um casal de irmãos gêmeos, praticamente idênticos (se não fossem de sexos opostos, seria impossível identificar) que não tem o menor contato comigo. Mesmo estando debaixo do mesmo teto que eu!

Bem... Fora esses pequenos fatos quase inúteis, o que irei retratar agora é o que realmente importa. Como devo dizer...

Meus irmãos sempre foram estranhos e eu aprendi a me acostumar com isso, porém, esse ano a menos de três meses, quando eles fizeram sete anos tudo ficou mais tenso dês de então. Notei que os lindos olhos azuis de Lucy e Luck adquiriram um tom negro e profundo para Luck, como se ele estivesse sugando sua alma, e um vermelho vivo e sombrio para Lucy, como se ela agarrasse sua vida e simplesmente tirasse toda sua esperança de viver. O mais estranho é que parece que apenas eu consigo reparar isso. Como se eles escolhessem sua presa antes de possui-la ou mata-la, antes de torturarem ela sem piedade, como os olhos da morte...

Outra coisa que andei reparando é que a boneca de pano que Lucy sempre carrega parece estar sempre me olhando, me vigiando, quase como os olhos de Lucy, me deixando igualmente desconfortável. E como se não bastasse toda noite eu encontro o carrinho de mão do Luck ao lado da minha cama com seus faróis acesos em minha direção, como pequenos olhos que me vigiam enquanto durmo sugando meus sonhos e pensamentos para que seus pequenos círculos de luz continuem brilhando e meus pesadelos permaneçam.

Porém, isso tudo acaba aqui... A mais ou menos uma semana tenho ouvido as vozes de meus irmãos em meus sonhos, pesadelos e me seguindo durante o dia, em todos os lugares, como se eles estivessem escondidos em algum lugar próximo apenas me observando e aguardando a hora certa de agir. Ouço pequenos risos de Luck, que vão ficando cada vez mais altos e frenéticos conforme me aproximo do local de onde se originam. Também escuto uma pequena música sem fim, uma espécie de “la la la” sendo cantarolada pela Lucy em um ritmo suave, sarcástico e sombrio, como se ela estivesse zombando do meu estado nervoso e neurótico. O pior nisso tudo é que esses tais acontecimentos ficam cada vez mais frequentes e piores, estão me levando à loucura. Não sei até quando conseguirei suportar, pois garanto, não sou mais o de antes dês de então e imagino que só devo piorar.

A cada dia sinto que chego mais perto do fim dessa grande tortura. A cada dia sinto mais medo. A cada dia sinto que tudo fica pior e mais sombrio... Até que, o que eu achava ser o fim estava só começando. Após acordar de um terrível pesadelo me deparo com os meus irmãos, apenas lá, parados ao lado da minha cama me encarando, Lucy com sua boneca de pano e Luck com a cordinha que puxava seu carrinho. Olhos sombrios, me sugando, me fazendo esquecer quem realmente sou. Eu me sentia um pouco tonto, fora de foco, porém, consegui reconhecer um grande sorriso em suas faces sombrias sob a luz da lua que entrava pela janela. Um sorriso e então... Sangue! Muito, mas muito sangue saindo de suas bocas sorridentes e olhos profundos. E antes que eu percebesse as vozes deles voltaram a me perseguir, Luck ria mais alto e freneticamente que nunca e Lucy não parava de cantarolar a “música da morte”.

Eu não aguentava mais, estava no meu limite, eu já havia esquecido tudo que poderia um dia me identificar como o garoto que já fui um dia. Aqueles olhos cheios de sangue não apenas me observavam, estavam levando minha alma para o abismo do esquecimento, apenas me arrastando até lá, apenas me torturando até aquele momento, o momento certo para terminar de sugar minha alma e levar tudo àquilo que um dia chamei de vida...

Lucy soltou a mão de sua metade e se aproximou de mim tirando de trás de sua boneca um punhal ainda sujo se sangue, porém reluzente. Sorrindo ela parou de cantarolar e disse:

- Não se preocupe logo você terá esquecido tudo isso...

A última coisa que vi e ouvi antes de empurrar Lucy e sair correndo do meu quarto até o quarto dos meus pais foi Luck rindo loucamente, o riso que não parava de me perseguir e ecoar em minha mente.

Após atravessar todo o corredor e entrar correndo e mais desesperado que nunca no quarto dos meus pais, não podia me deparar com coisa pior... Meus pais estavam banhados em sangue, minha mãe pendurada pelos cabelos no ventilador que ainda girava lentamente e meu pai preso na parede por pregos nas mãos, nos pés e um bem no meio de sua testa. O quarto era uma poça de sangue e eu ainda conseguia ver, mesmo sob a escuridão, os órgãos e tripas dos meus pais espalhados por toda parte.

Eu não aguentei, vomitei ali mesmo no chão cheio de sangue. Sentia as lágrimas e meu coração mais acelerado que nunca, podia jurar que ia ter um infarto ali mesmo. Mas não podia continuar assim, no final do corredor os gêmeos se aproximavam da mesma forma de sempre, rindo loucamente e cantarolando sobriamente  Com minhas últimas forças levantei, desci as escadas quase caindo por causa da tontura e fui até a porta da frente na esperança de fugir... Mas de tudo que já tinha acontecido essa era a última coisa que eu esperava acontecer... Ao abrir a porta, em vez de ver a rua, casas, pessoas, talvez um mendigo ou outro, eu acabei me deparando com o nada, com a escuridão, apenas um vazio negro e sombrio, simplesmente o nada...

- Assustado, irmãozinho?! – disse Lucy que já estava atrás de mim apenas esperando a hora certa.

Ela continuava com o punhal, calma, obscura, e murmurando a “música da morte” entre os lábios.

- Parece que você esqueceu até onde morava, irmãozinho. Não se preocupe você se esquecerá disso também...

E essas foram às últimas palavras que ouvi antes de esquecer tudo e todos... Porém os risos e a música da morte assombrarão todos que esqueceram e todos que esquecerão...

apartamento 41


Essa historia, é para aqueles que moram em apartamentos e nunca viram seus vizinhos na vida.
Já se perguntaram se vocês realmente os tem? Bom eu já.

Eu moro em um condomínio, com quatro prédios eu moro no (bloco) B4, eu cresci neste lugar e sempre adorei, por ter muitos amigos e também pelas possibilidades de lazer que eu desfrutava, até que tudo isso aconteceu.

Como qualquer adolescente, em uma noite de sábado, eu desci para o hall de meu prédio para encontrar alguns amigos, nós todos na verdade não tínhamos nada para fazer, e um deles, teve a brilhante ideia de ir até um local que ficava perto da churrasqueira comunitária para contar historias de terror.





Era um quiosque, que estava sujo por sinal, nos sentamos, tiramos algumas garrafas de bebida de dentro de um saco de papel, e eles começaram a contar... Eles contavam historias clichés, sobre a loira do banheiro, sobre um monstro nos esgotos, e sobre fantasmas.

Era por volta de umas 11 horas, quando minha mãe ligou no meu celular para que eu fosse para casa, eu fiquei irritado, mas eu também ja estava bêbado, e era tarde.Ela estava apenas preocupada, eu tinha levado a chave... mesmo assim foi para meu apartamento. Eu caminhei pelo menos uns dois minutos e cheguei a porta de entrada para o hall, que estava trancada, eu peguei o molho de chaves e procurei a que abriria a porta, mas por deus ... Eu estava muito bêbado.

Eu estava completamente sozinho, não havia nem mais a sombra de meus amigos, e foi então que a luz de emergência que fica do lado de fora do prédio começou á piscar...

Eu confesso que entrei em pânico.

Eu ainda estava procurando pela chave certa, e acabei deixando elas caírem no chão! 
Quando me abaixei e levantei novamente, eu tinha certeza de ter visto um vulto negro passando por debaixo de um dos postes de luz que ficava á uns quinze metros de mim.

Eu finalmente achei a chave.

Eu entrei no hall meio que tremendo, talvez de nervoso ou por medo, eu apertei o botão do elevador, que por uma infeliz conhecidencia estava no poço que fica no ultimo andar do prédio, e meu prédio tem 14 andares, eu sabia que aquela merda ia demorar, e eu morava no quinto andar.

Então eu resolvi ir pela escada de emergência.

Péssima ideia.

Eu comecei a subir as escadas meio que cambaleante, era realmente algo bem constrangedor.
As escadas eram totalmente escuras, e a cada andar que eu passava uma daquelas luzinhas automáticas se acendia, eu estava subindo a escada tão lentamente que nem percebi que ainda estava no segundo lance de escada do primeiro andar.

Ainda estava tudo escura na minha frente. E eu vi a luz automática se apagando atrás de mim... alguns minutos se passaram e eu cheguei ao segundo andar. Quando a luz se acendeu eu vi como se fosse um vulto bem atrás de mim, como se ele tivesse se escondido na escuridão inevitável... bem atrás de mim.

Aquilo era uma tortura... 

Eu pisei no segundo andar... olhei para a porta com o numero 2, e vomitei... caramba como eu estou bêbado! Mas tudo bem...continuando....

Eu continuei subindo as escadas, chegando ao terceiro andar eu ouvi a porta da escada de emergência batendo atrás de mim... e eu comecei a subir as escadas bem rápido, pulando de dois em dois degraus, e então escorreguei...

Eu tinha pisado no meu vomito, e meu tênis ainda estava molhado... quando eu ia começar a me levantar, a luz se apagou...

E comecei a ouvir os passos de alguem subindo as escadas, mais ou menos no segundo andar... e então eu falei..

- Tem alguem ai? Responda!!

E uma voz suave, molhada, e rouca, masculina ao mesmo tempo respondeu.

-Sim, sou eu seu vizinho do quarto andar... moro no 41

Eu respirei fundo aliviado, e me levantei... eu estava chegando no quarto andar e o cara ainda não tinha nem chegado perto de mim, e nem uma luz atrás de mim tinha se acendido depois de eu saber que ele estava lá.

Quando cheguei ao quarto andar, de frente para a porta de emergência, eu ouvi um baque oco do outro lado... como se alguem tivesse batido a cabeça... eu me afastei da porta e a luz do quinto andar se acendeu mais á frente... deixando claro os arranhões atrás daquela porta. 

Era como se alguem tivesse sido arrastado, e tivesse arranhado aporta para tentar chegar a maçaneta... bizarro.

Eu finalmente cheguei ao quinto andar e em minha porta, eu procurei a chave por alguns minutos e quando eu ia colocando a chave na fechadura, a porta se abriu. Era minha mãe.

-Menino! Já faz meia hora que eu te liguei!! Você dormiu no caminho pra cá foi?!...Ei espere ai... você esta bêbado?!

-Ah mãe... só um pouquinho... e eu vim de escada, o elevador tava demorando, e tinha um cara na escada... no escuro... eu cheguei...não cheguei?... então fica calma.

-Caramba...você não esta dizendo coisa com coisa... Vai já tomar banho e dormir...

Ela saiu resmungando e eu fui para meu quarto, tirei minha roupa, me olhei no espelho, admirando meu corpinho sexy e fui para o banheiro... Tomei banho... e em seguida cai na cama e dormi.

Isso aconteceu numa sexta feira, e no domingo da mesma semana eu tornei á ver meus amigos, mas nós íamos jogar futebol. 

-Cara na sexta feira, eu quase morri na escada de emergência do meu prédio, tinha um cara lá, eu quase morri de susto.

-Que cara?

-Ele disse que morava... hum... no quarto andar... acho que no apartamento 41...

Meus amigos ficaram pálidos...

-Que foi? por que essas caras de bunda agora? A não cara você peidou né....Que droga!!!

-Não, não é isso...você não conhece a história, você não morava aqui ainda. 

( Isso é verdade, eu havia me mudado á uns cinco meses para lá)

Nós sentamos num banco ali perto, e eles começaram a historia...

-Há uns três anos atrás, no seu prédio dois amigos brigaram muito feio, tipo brigaram até armados. O cara que morava no seu prédio no 41, se não me engano se chamava Marcelo, e eles estavam conversando um dia no apartamento dele, e começaram a ter uma discussão acalorada, talvez fosse porque o cara tinha pegado a mulher do outro não me lembro, mas os dois saíram no tapa...e esse amigo do Marcelo, era um mal elemento, drogado e tudo mais, e tirou o canivete do bolso pra matar o cara. O Marcelo, saiu correndo, ele foi tentar pegar o elevador, e o cara arrastou ele para a escada de incêndio, e esfaqueou o cara até a morte.

...Eu fiquei totalmente paralisado e senti um cala-frio... E meu amigo continuou falando, enquanto olhava para a minha cara de bunda...

-Cara... você não tem vizinho nenhum no 41, aquele apartamento nunca foi vendido, pra mais ninguém.


E foi por isso que nós nos mudamos para o bloco B1 do condomínio.

a virgem do poço

Havia, no Japão Feudal do Séc. XVII, uma bela jovem de nome Okiko. Essa jovem era serva de um grande Senhor de Terras e Exércitos: Oyama Tessan.
Okiko, que era de uma família humilde, sofria assédios diários de seu mestre, mas sempre conseguia se manter longe de seus braços.



Cansado de tantas recusas, Tessan arquitetou um plano sórdido para que Okiko se entregasse a ele. Certo dia, Tessan entregou, aos cuidados de Okiko, uma sacola com 09 moedas de ouro holandesas, mas dizendo que havia 10 moedas, para que as guardasse por um tempo.



Passado alguns dias, Tessan pediu que a jovem devolvesse as moedas. A donzela, ao constatar que só havia 09 moedas, ficou desesperada e contou as moedas várias vezes, para ver se não havia algum engano.



Tessan se mostrou furioso com o "sumiço" de uma de suas moedas, mas disse que, se ela o aceitasse como marido, o erro seria esquecido. Okiko pensou a respeito e decidiu que seria melhor morrer do que casar com seu mestre.



Tessan, furioso com tal repúdio, agarrou a jovem e a jogou no poço de sua propriedade. A jovem Okiko morreu na hora.



Depois do ocorrido, todas as noites, o espectro de Okiko aparecia no poço, com ar de tristeza, pegava a sacola de moedas e as contava. Quando chegava até a nona moeda, o espectro suspirava e desaparecia. Tessan assistia aquela melancólica cena todas as noites e, torturado pelo remorso, pediu ajuda à um amigo para dar um fim àquela maldição.



Na noite seguinte, escondido entre os arbustos perto do poço, o amigo de Tessan esperou a jovem aparecer para dar fim ao sofrimento de sua alma. Quando o fantasma contou as moedas até a nona, o rapaz escondido gritou:



– Dez!!!



O fantasma deu um suspiro de alívio e nunca mais apareceu.

nicola, minha irmã psicopata



Tom Edgington tem poucas lembranças felizes de sua infância em Muswell Hill, um subúrbio ao norte de Londres. Seu pai, Harry, um homem sério e de poucas palavras, era um correspondente do jornal inglês Daily Mail, e trabalhava muito dentro de casa. Sua mãe, Marion, ao contrário do marido, era uma mulher bastante comunicativa e uma personalidade bastante popular no bairro. Além de Tom, o casal tinha mais duas filhas,Nicola, a mais velha, e Sara, a caçula. A família inglesa poderia ser apenas mais uma família normal mundo afora não fosse um seríssimo problema que girava em torno da irmã mais velha de Tom, a ruivinha Nicola.
Tom diz sobre sua irmã:
“Nicola parecia gostar de criar conflitos, colocando as pessoas umas contra as outras. Eu pensava que era normal, não tinha como eu saber que não. Crescemos como forasteiros no bairro, Nicola sempre tinha problemas na escola e os pais de colegas proibiam seus filhos de brincarem com ela por acharem que ela era uma má influência.”
Voltando ao passado, uma lembrança se destaca na mente de Tom. Ele tem quatro anos e está arranhado, sangrando, caído sobre uma roseira no jardim. Seu pai corre para ajudá-lo, ao lado, sua irmãzinha Nicola assiste à cena sem expressar nenhuma emoção. Foi ela quem o empurrou contra os espinhos. Repreendida pelo pai, ela apenas diz:
“Está feito!”
Ela chamava o irmão mais novo apenas de “coisa”, e essa não fora a primeira vez que ela tentara se livrar dele. Quanto Tom tinha dois anos, Nicola empurrou o seu carrinho de bebê pela escadaria de uma igreja durante um passeio de família. Por sorte, Harry conseguiu segurar o carrinho antes que este rolasse escada abaixo.
Tom diz:
“Todo mundo pensou que era apenas rivalidade normal entre irmãos e que ela iria crescer sem isso, mas Nicola só fez piorar. Pelo que eu me lembre, Nicola não era certa, não tinha empatia com os outros.”
Marion consultou psicólogos que disseram que Nicola era “normal”, mas segundo Tom, sua irmã era uma criança mestre em manipular:
“Ela era boa em fingir sanidade.”


Aos 11 anos, Nicola ficou incontrolável, fugia de casa e passava dias desaparecida.
“Uma vez minha mãe escondeu todos os seus sapatos para impedí-la de sair de casa, ela então pegava os meus e fugia. Ficava uma ou duas semanas sumida. Os serviços sociais diziam que ela era um perigo para outras crianças, mas eles não ajudavam minha mãe.”
Quando Nicola completou 12 anos, Marion deciciu mudar-se com a família para uma casa de campo em East Sussex, uma bucólica região no sudoeste da Inglaterra. Separada de Harry, ela queria levar sua filha mais velha para longe de Londres. Na capital inglesa, apesar da pouca idade, Nicola já havia enturmado com tudo quanto era má influência, passava as noites nas ruas bebendo e fumando com amigos. No novo lar, Marion colocou os dois filhos mais novos, Tom, 10 anos, e Sara, 07 anos, em um internato onde passavam a semana inteira longe de Nicola.
“Acho que minha mãe percebeu que Nicola poderia ser violenta, estava se tornando um risco para nós. Para mim foi um alívio ficar longe dela. Eu amei a escola e não queria ir para casa nos fins de semana. Ficar com meus amigos e ver como outras famílias se relacionavam, me fez perceber o quão mentalmente instável era Nicola e como isso afetou nossa família.”
Aos 15 anos, Nicola foi expulsa do colégio e passou a morar em um apartamento pago pelo seu pai, Harry. Nessa época, depois de inúmeras tentativas, sua mãe conseguiu levá-la até um Centro de Saúde e ela começou a tomar remédios controlados. Morando sozinha, porém, ninguém poderia garantir que Nicola tomaria sua medicação.
No seu aniversário de 13 anos, Tom visitou a irmã mais velha, mas a visita quase lhe tirou a vida. Nicola o fez fumar maconha e obrigou-lhe a consumir anfetaminas até que ele caísse doente. Talvez ela o tenha usado como uma espécie de cobaia para saber quantos comprimidos eram necessários para levar alguém a óbito.
Aos 17 anos, Nicola ficou grávida de gêmeos, mas teve um aborto depois que o namorado lhe deu um soco na barriga. Ela se mudou para Londres onde trabalhou como recepcionista e dançarina de boates de strip-tease. Aos 19 anos, ficou grávida novamente de um namorado traficante e deu à luz a um filho. Foi Marion quem ajudou a filha nos cuidados com a criança, o seu primeiro neto.
Dois anos depois, aos 21, Nicola se casou com um jamaicano que conheceu em um clube. Engravidou do seu segundo filho e viveu, talvez, o período mais estável de sua vida.
Tom diz:
“O marido de Nicola amava o primeiro filho da minha irmã como se fosse dele. Ele fez com que Nicola tomasse sua medicação, mas às vezes ela o tratava horrivelmente e o acusava de todos os tipos ruins de comportamento.”
O casamento acabou quando Nicola se juntou a uma igreja cristã evangélica e tornou-se convencida de que Deus, ao invés dos seus medicamentos, poderia curá-la. Ficou convencida de que estava cercada por demônios. Seu marido voltou à Jamaica e, quando Nicola o visitou, estava num estado tão preocupante que o ex-marido a proibiu de deixar o país com o filho do casal. Ela voltou para a Inglaterra apenas com seu filho mais velho. Marion estava tão preocupada com a segurança do neto que entrou em contato com o Serviço Social inglês para que este tirasse de Nicola a guarda do seu filho.
“Acho que minha mãe esperava que Nicola teria a ajuda médica que precisava e, em seguida, teria o seu filho de volta. Mas não foi isso o que aconteceu. Sem os filhos, Nicola perdeu seu alojamento e o dinheiro do governo, e começou a culpar minha mãe, que ficou bastante assustada e disse que Nicola poderia matá-la.”
Após o episódio das anfetaminhas, Tom mudou-se para a cidade de Brighton onde cursava faculdade de Teatro. Ficou anos sem ver a irmã e fazia de tudo para evitá- la. Em um fim de semana de Novembro de 2005, ele e sua irmã mais nova, Sara, decidiram visitar a mãe em East Sussex, e quem estava lá ?
“Foi tudo difícil e tenso. Nicola estava muito tranquila e ficou lá sentada escrevendo no seu notebook, enquanto eu tentava fazer piadas para aliviar o clima.” Diz Tom
O que será que Nicola escrevia no notebook ???
“Decidi levar Nicola para um pub para que, pelo menos, Sara tivesse algum tempo com nossa mãe. Fomos para o pub, mas Nicola foi convidada a se retirar do local por brigar com um DJ. Quando ela disse que estava voltando para Londres, fiquei aliviado.”
Nicola e o irmão Tom foram para um Pub e a primeira coisa que Nicola fez foi arrumar confusão com um DJ do local. Após ser expulsa do Pub, Nicola disse ao irmão que voltaria naquele instante para Londres, o que o deixou bastante aliviado.
“Eu telefonei para casa e perguntei pra minha mãe e Sara se elas não queriam se juntar a mim no Pub. Elas vieram, mas minha mãe não conseguiu um local para estacionar o carro e então deixou Sara e voltou para casa.”
Sara e Tom ficaram conversando e bebendo no Pub. Eles não poderiam imaginar o horror que estava por vir.
“No começo eu não conseguia entender o que estava vendo. Eu vi uma trouxa de roupas e duas pernas e pensei que minha mãe tinha convidado alguém para ficar lá. Falei para Sara que entrou no quarto e disse: Chame a Polícia!”
Ao voltarem para a casa da mãe, os irmãos veriam uma cena que nunca mais sairiam de suas cabeças. Marion, a carinhosa mãe que sempre cuidou para que os filhos vivessem em paz e harmonia, estava caída no chão com uma enorme faca cravada no peito. Marion estava morta.



Chocado pela cena, Tom imediatamente soube quem era a responsável por aquela barbaridade. Sua suspeita tornou-se uma certeza quando ele acessou o notebook que sua irmã Nicola, a poucas horas atrás, usava. Lá, havia um arquivo do word salvo no desktop com o seguinte título:
“Pessoas condenadas!”
“O nome da minha mãe estava no topo da lista, e estava riscado. Foi decepcionante, também, ver o meu nome na lista. Talvez ela pretendesse me matar.” Diz Tom.
Quando Nicola Edgington foi presa em um ônibus de Londres, depois de 16 dias em fuga, suas palavras foram:
“Foi Tom quem fez isso!”
“Não bastasse ela ter deixado o corpo da minha mãe para eu encontrar, ela ainda tentou me culpar por sua morte.” Diz Tom.
Após sua prisão, Nicola foi diagnosticada com esquizofrenia e transtorno de personalidade antissocial (psicopatia) e enviada a um hospital psiquiátrico após admitir o homicídio e por ter sua responsabilidade diminuída devido à sua condição.
Na época, Tom e sua irmã Sara disseram em um comunicado que:
“Finalmente Nicola está no lugar onde não poderá machucar ninguém e que pode receber à ajuda que desesperadamente precisa.”
Mas a tranquilidade para Tom, e sua irmã Sara, se transformou em medo quando, em 2009, Nicola foi libertada.
Por dois anos, ela morou na Ambdekar House, no bairro de Greenwich, sudeste de Londres, uma casa de apoio supervisionada por uma equipe de saúde mental. Considerada “boa” pelos médicos e pela equipe do local, Nicola fazia planos para mudar para um apartamento. Na verdade, Nicola estava longe de estar estável. Ela havia parado de tomar sua medicação anti-psicótica após ficar grávida de um outro paciente, e quando ela perdeu a criança num aborto espontâneo, ela piorou.
Em 11 de outubro de 2011, Nicola enviou uma mensagem ao seu irmão Tom pelo Facebook, era a primeira comunicação entre os irmãos desde a morte de Marion.
“Ninguém está tomando conta de mim como mamãe fazia.” Escreveu Nicola.
Tom ficou assustado com a mensagem. Ele contatou a Ambdekar House e pediu para que a irmã fosse imediatamente reassistida. Dois dias depois, em 13 de outubro, Nicola discou para o serviço de emergência inglês, o 999, e disse:
“A última vez que me senti assim, eu matei alguém, matei minha mãe.”
Parecia que Nicola estava implorando por ajuda. Policiais a encontraram e a levaram voluntariamente para o Hospital londrino Queen Elizabeth II. Dentro do hospital, ela novamente ligou para o 999 e gritou para ser presa, avisando que era muito perigosa. Pensando se tratar de um surto psicótico, profissionais do hospital a transferiram para uma Unidade de Saúde Mental. Enquanto uma enfermeira preparava sua cama, Nicola fugiu.
Pegou um ônibus para Bexleyheath, um bairro no subúrbio de Londres, invadiu uma loja e roubou uma faca. Ao ver uma mulher parada num ponto de ônibus, Nicola não pensou duas vezes: Correu em sua direção para matá-la. Kerry Clark, 22 anos, teve sorte. Talvez por ser jovem, conseguiu lutar contra Nicola que não conseguiu atingir o seu objetivo. Mas ela não parou por ai. Nicola invadiu um açougue e roubou um cutelo. Naquela mesma hora, Sally Hodkin, 58 anos, caminhava em direção ao seu trabalho como fazia todas manhãs. Sally teve, praticamente, sua cabeça decapitada por Nicola.
“Você é manipuladora e excepcionalmente perigosa. Você fez sua escolha e o fato é que voce deve assumir as responsabilidades pelos seus terríveis atos,” disse o Juiz Brian Barker, a duas semanas atrás, durante o Julgamento de Nicola Edgington, 32 anos. Nicola foi condenada a duas prisões perpétuas pelo assassinato de Sally Hodkin e tentativa de homicídio de Kerry Clark.
Hoje, Tom não tem certeza sobre como se sente em relação à sua irmã mais velha. Tom aceita que Nicola sofre de uma doença mental e transtorno de personalidade, mas não acredita que ela pode ser absolvida por suas responsabilidades. Sua ira é direcionada para os profissionais médicos que decidiram que Nicola estava bem o suficiente para estar de volta à comunidade.
“Nós conhecemos Nicola por toda vida. Nós sabíamos que ela era perigosa. Dissemos a eles que ela seria um risco para outras pessoas. Ela nunca deveria ter saído, mas eles simplesmente não quiseram nos ouvir.”

sexta-feira, 24 de maio de 2013

escuras

Eu morava a um ano e meio naquela casa. Era pequena. Um quarto, um banheiro, a sala, e a cozinha. Mas eu estava feliz com ela, recebia alguns amigos durante a semana que elogiavam o quanto eu conseguia manter tudo em ordem mesmo morando sozinha. Era simples, ninguém me incomodava e eu não incomodava ninguém. Mas um dia, o sol não amanheceu. A casa se localizava mais ao no lado rural da cidade, onde não haviam muitas casas, e mesmo eu morando a tanto tempo lá eu não conhecia quase ninguém. Só tenho a culpar a mim. Eu sou meio introvertida e optava por ficar trabalhando em meus quadros do que fazer amizade com os vizinhos. Provavelmente esse tenha sido meu erro.

Eu estava deitada em minha cama, dormindo tranquilamente quando ouvi o Bip do despertador do meu relógio digital. No escuro brilhavam em vermelho indicando que já eram nove horas da manhã, e que estava na hora de eu me levantar. Mas, estranhamente, tudo estava escuro. Eu levantei, esfreguei os olhos e olhei o relógio com mais atenção. Não podia ser nove horas se tudo ainda estava escuro. Supus que tinha faltado luz durante a noite e voltei a dormir, já que era domingo e não pretendia fazer mais nada. Dormi mais algumas horas e quando acordei o relógio não estava mais ligado. Eu não estava mais cansada ou com sono, e fiquei deitada na cama. Ainda estava tudo escuro. Por essas horas já devia ter amanhecido. Suspirei. Não conseguia entender nada.

Me levantei e com ajuda da luz do celular me guiei até a janela do meu quarto. Olhei para fora atrás vez do vidro e tudo estava escuro. Nenhuma luz em nenhum lugar por perto. Nem uma casa tinha as luzes ligadas. Fui até o interruptor e tentei ligar a luz, mas não havia nenhuma luz. - Droga - suspirei. Ainda estava meio tonta do sono longo, e me direcionei a sala, até a porta da frente de casa. Abri e me direcionei até a rua. Estava um silêncio mortal. O vento não fazia nenhum barulho, as árvores estavam imóveis, eu não ouvia o barulho de nenhum animal e de nenhum inseto. Era horripilante, como se eu tivesse ficado surda de uma hora pra outra. Bati palma, pra ter certeza de que eu ainda podia ouvir, e o barulho pareceu tão alto no silêncio que ecoou pela escuridão e doeu nos meus ouvidos. Então percebi que podia ouvir meu próprio coração batendo rápido no meu peito. Minha respiração descontrolada, e até o estralar leve do meus ossos de vez enquanto quando me movia. Olhei para o céu sem ajuda da iluminação do meu celular e era como fechar os olhos. Nenhuma nuvem, nenhuma estrela, constelação, nada. Nem mesmo a luz que estava cheia ontem a noite tinha sumido.

Entrei de volta para casa e tranquei a porta. Estava começando a ficar nervosa. Não sabia o que fazer. Tentei ligar para uma amiga que morava na cidade para saber a situação de lá, mas os celular não tinha sinal nenhum. Tentei com o telefone de casa, mas as linha estava muda. Me sentei no sofá e não sei por quanto tempo eu fiquei lá, pensando no que fazer. Deve ter passado algumas horas quando eu levantei, tirei meu pijama, coloquei uma blusa de manga longa e uma calça jeans. Amarrei meus cabelos loiros em um coque e fiquei de pé no meio da sala. Parecia que o dia nunca ia amanhecer, e eu precisava saber que isso não era um sonho, que eu não estava sozinha nessa. A bateria do meu celular começou a apitar e a luz da tela ficou pela metade, e tudo começou a ficar mais complicado. Desliguei o celular, para usa-lo em um momento que precisasse mais. Peguei uma lanterna que tinha na gaveta do meu quarto e sai pra rua. Foi a pior decisão que eu tomei na vida.

Tudo continuava escuro e silencioso. Peguei a estrada de chão, e comecei a caminhar, pois pensei que de bicicleta seria muito perigoso pra cair, e se me machucasse sabe lá quando alguém me encontraria... se é que tinha alguém por aí. Minha lanterna iluminava pouco e ainda por cima uma névoa um tanto grossa. Demorei um pouco até chegar a primeira casa perto da minha, uns dez minutos pelo menos. Bati palmas no portão e elas ecoaram tão alto que bati de bater, sentia como minha cabeça ia explodir. - Tem alguém aí? - falei em um tom não tão alto, quase um sussurro, mas qualquer um em pelo menos cem metros poderia ouvir. Não ouvi nenhuma resposta, e abri o portão (que não estava cadeado). O carro deles estava na garagem aberta, e eles não poderia ter saído daquele fim de mundo sem ele. Fui até a janela e bati com os nós dos dedos levemente. Nenhuma resposta. Apontei minha lanterna no vidro e iluminei porcamente a sala de estar da casa. Não havia nenhum movimento, nenhum barulho, nenhuma pessoa. A única coisa que eu ouvia era meu coração batendo rapidamente.

Andei até os fundos da casa onde havia um imenso milharal. Não sei por qual ideia eu que alguém poderia estar lá, naquela escuridão. Subi em um banquinho e apontei a lanterna para plantação - Olá!? - Nenhum som. - Tem alguém aí? - Perguntei, iluminando em todas as direções. De repente eu ouvi muito distante uma movimentação no milharal. Muito distante, só que era muito rápido. Nenhum ser humano podia se movimentar daquela forma, a não ser que fosse em um carrinho de golf, ou em um quadrículo. Não chamei de novo, agora eu estava apavorada e milhões de ideias estavam na minha cabeça do que podia ser aquilo. Meus olhos marejaram ao pensar em que tipo de ser estaria rastejando numa velocidade daquela pelo milharal.Pulei do banquinho e desliguei minha lanterna, correndo até a porta de trás da casa, e por sorte ela estava aberta. Entrei e tranquei a porta, pois a chave estava lá na fechadura. Me encostei com as costas no armário da cozinha, tentando não chorar, arfar, respirar profundamente, ou qualquer coisa que me fizesse fazer algum som muito alto. Agora eu sabia que o que quer que seja, já estava fora do milharal, pois eu não ouvia o farfalhar do seu enorme corpo contra as folhas. Mas eu ouvia o esmagar da grama, e algo como um gotejar. Era tudo apavorante.

A coisa esbarrou no banco, ou em qualquer outra coisa que eu não tinha visto que caiu sobre o cimento do chão do quintal, e fez um barulho alto demais. Cobri meus ouvidos, e senti a casa e o chão estremecer quando a coisa esbarrou contra a porta, umas três vezes. Me encolhi mais para o canto, senti minhas lagrimas correrem pelo o rosto e depois então o silencio. A criatura parecia estar se afastado lentamente da casa. Tirei meus tênis pois eu tinha medo que até meus passos ecoassem. Fui até a janela da sala, subi no sofá, e apenas espiando pela pontinha da cortina, esperando não ver nada por causa da escuridão, mas eu vi.

Era uma enorme criatura, que devia ter dois metros de comprimento. Era gorda, e comprida, como uma lesma, mas tinha a pele escamosa. Irradiava um tipo de luz própria, não muito forte, mas o suficiente para iluminar seu caminho na escuridão. Ela se movia rapidamente na estrada e logo sumiu de vista. Fiquei ainda um bom tempo na janela, esperando alguma coisa, mais alguma criatura, algum ser humano, ou que pelo menos acordasse desse pesadelo.

Então senti algo envolta do meu tornozelo e minha boca. Algo me puxou violentamente para fora do sofá, mas eu não conseguia gritar. Na verdade meu impulso foi de ficar quieta, e apenas me debater. Então eu ouvi um leve - Shhh. Calma. Fica quieta. - Fique, parei de me debater. Eu ainda tinha minha lanterna e iluminei o rosto de uma garota, talvez um pouco mais nova que eu, com os cabelos pretos amarrados em uma trança do lado da cabeça. Ela tinha os olhos arregalados e inchados, parecia ter chorado muito durante um bom tempo, como..bem, como eu.

- O que está acontecendo? - Ela perguntou com a voz chorosa. Eu não sabia da onde ela tinha vindo, se morava naquela casa ou se eu podia confiar nela. Por essas horas eu já não tinha muito o que fazer se não duvidar de tudo. Me arrastei pra longe dela no chão, ainda apontando a lanterna pra ela. - O-que-está-acontecendo? - Ela sibilou, ainda mais chorosa. - Eu vi, eu vi aquele monstro na rua, eu não sei onde estão todos, meu pais não voltaram ontem pra casa, não consigo ligar pra ninguém...

-Shhh, fala mais baixo. - Falei, me levantando e olhando pela janela. Não havia nenhuma luz, o que me deixava segura que nenhuma lesma gigante asquerosa estava por perto. - Fique calma, okay? Pare de choramingar. Essa é sua casa?- Si-sim. - Ela falou, se levantando.- Lanterna?- Sem pilha.- Velas?- Não.- Mas que merda. - me levantei, passando a mão na cabeça.- Desculpe. - ela falou choramingando, encolhida no chão abraçando as pernas.- Não é sua culpa.

Eu não conseguia pensar direito, tudo girava e o choro baixo da menina invadia meus ouvidos de um jeito absurdo, latejando meu cérebro. Eu só conseguia pensar que devíamos nos deslocar pra cidade, ou para algo que pudesse nos proteger de um jeito mais eficiente. Enquanto eu pensava, comecei a ouvir um choro simultâneo ao da garota que devia agora, olhando pra ela com a luz da lanterna, devia ter uns 14 ou 15 anos. Ela tinha calado a boca, e parecia agora extremamente culpada, enquanto outro choro soava alto vindo de um dos quartos. Marchei até o quarto e abri a porta. Dentro, iluminei uma criança, muito pequena, que devia ter no máximo dois anos, de pé ao lado de uma cama improvisada no chão.

A garota saiu correndo da sala e pegou a bebê no colo, falando para ela se acalmar, e depois de alguns minutos, com o dedo na boca a menina se calou. Fiquei pensando qual seriam minhas chances de sobreviver cuidando de duas crianças. E eu tinha apenas 20 anos. Eu não tinha experiência. E como eu correria rápido segurando um bebê? Mas eu simplesmente não podia deixar as duas sozinhas. Estavam tão sozinhas, pequenas, abraçadas uma a outra, sabendo que suas vidas se dependiam, de alguma forma.

- É sua irmã? - Perguntei para mais velha.- Não. - Ela falou soando mais culpada ainda, e embalando a criança. - Ela estava andando sozinha, chorando na estrada, então eu tive que pegá-la.- Você pegou esse bebê da estrada?!- O que eu devia fazer? Deixar ela lá pra ela morrer sozinha? Sem nenhum pai ou mãe por perto? Com essa escuridão toda? Ela estava apavorada.- Okay, acalme-se, não grite! - Falei tentando acalma-la, com as mãos na minha cabeça, sem ideia do que eu poderia fazer no momento. Me sentei no chão e desliguei a lanterna. A menina pequena começou a chorar baixinho.- Ela tem medo do escuro... - falou a outra, e eu suspirei, ligando de novo a lanterna.- Acho que ela vai ter que se acostumar com a situação e ficar quieta. - Eu não estava com muita paciência para nenhuma das duas. - Qual o nome de vocês?- Eu sou Kate, e ela... bem, a pulseirinha que ela tem no pulso diz "Emily".- Sou Tara. Olha só Kate, eu sei que você já tem idade pra entender qual é a situação aqui, muito séria. A gente tem que dar o fora da sua casa e ir pra cidade, eu sei que é longe a pé, mas se cortarmos caminho pela floresta acho que talvez demoremos umas 3 ou 4 horas caminhando. Vai ser cansativo, eu sei. - Coloquei a mão no rosto. Minha própria voz me cansava, como se fizesse pressão nos meus ouvidos. - Você tem a opção de ir comigo, ou ficar aqui e esperar que tudo volte ao normal. Mas eu não vou ficar aqui esperando ser demorada por essas porras que tão por aí.-Tudo bem, a gente vai com você. Farei o possível pra te acompanhar, junto com a Emily.- Okay...Precisamos comer alguma coisa antes de sair.

Andei para sala enquanto ela vinha atrás de mim. Deixei a lanterna ligada em cima da mesa, e como era daquelas pequenas recarregáveis a mão, eu não tinha medo que ela acabasse. Kate colocou a nenê no sofá, que ficou deitada chupando o dedo enquanto nos acompanhava com os olhos. Ela parecia até calma, pelo menos não ficava chorando o tempo todo. Procurei por algo na geladeira, e peguei pão e preparei um sanduiche de pasta de amendoim para a pequena. Não havia nada que pudéssemos fazer que demorasse muito, então enquanto eu ia sofá oferecer a pequena, Kate fazia um para mim e para ela, e até mais alguns para a viagem.

- Oi. - falei suavemente enquanto sentava do lado dela no sofá. Ela esticou a mãozinha e abanou, sem tirar o dedão da boca. - Está com fome, Emily? - Ela fez que sim coma cabeça. - Olha a tia trouxe um sanduíche pra ti, você gosta?- Sim. - Falou baixinho com a voz fininha, depois de tirar o dedo da boca. Pegou o sanduíche da minha mão e começou a mordiscar como um passarinho.

Kate trouxe o meu e colocou os outros dentro de uma mochila escolar. Colocou umas garrafas d'água também. Comemos e depois de uns 20 minutos, já estávamos saindo de casa.Coloquei meus tênis de volta, pois se cortasse meus pés na escuridão seria mais problema ainda. Kate pegou Emily no colo, mas peguei-a de seus braços. Sabia que se quisesse agilidade, eu teria que levar a bebê por um tempo, pelo menos até pegarmos distancia da casa. Emily se acomodou em meu colo, segurando-se firme, e Kate colocou as mochila nas costas.

Então começamos a andar. Não falávamos nada, e tentávamos ser o mais silenciosas o possível. Também não iluminávamos o caminho pela a estrada, pois era meio perigoso, e de alguma forma nossos olhos já tinha, se acostumado com o breu, e conseguíamos ver a alguns metros a nossa frente. Depois de meia hora andando pela estrada, alcançamos a floresta, e começamos a entrar. Por incrível que pareça, lá dentro conseguia ser ainda mais escura. Qualquer passo que dávamos nas folhas secas e galhos, ecoavam por todo o lugar. Levávamos sustos com nossa própria respiração ofegante ou nossos passos.

Depois de mais de duas horas caminhando, meus braços estavam tão cansados de carregar Emily que tive que parar por alguns segundos. Coloquei-a a no chão e sacudi os braços. Emily se abraçou a minha perna, pedindo proteção e colo.

- Você quer que eu carregue-a um pouco?- Não... eu só preciso descansar um pouco. Me de uma garrafa de água.

Enquanto eu ela tirava as mochilas das costas eu vi uma iluminação ao longe, se aproximando rapidamente. Sacudi a cabeça, peguei Emily no colo e puxei Kate pelo braço. Comecei a correr pela mata me perdendo da trilha que antes acompanhávamos. Emily ameaçava a começar a chorar e eu tentava a acalma-la falando que estava tudo bem. Kate me acompanhava, correndo ao meu lado segurando a mochila tentando não derrubar nada. Corremos muito, por alguns minutos seguidos até eu olhar pra trás e não ver nenhuma luz. Eu não tinha percebido até parar de correr, mas eu chorava. Não aos berros, simplesmente o desespero fazia com que eu derramasse lágrimas correntes de meus olhos, assim como Kate e Emily. Eu sentia o coração da bebê batendo forte, enquanto ela estava pressionada contra mim. Passei a mão na sua cabeça, e disse mais uma vez que estava tudo bem. Por sorte, eu conhecia o caminho, e estávamos nele.

Vi a frente a colina, e coloquei Emily no chão. Tirei as coisas de dentro da mochila deixando no chão. Sabia que no topo daquele lugar conseguiria ver a cidade e uma estrada que chegaria nela rapidamente. Coloquei Emily dentro da mochila, que apesar da menina ser pequena, ela ficava quase caindo pra fora. Coloquei na parte da frente do meu corpo, e Emily me abraçou meu pescoço. A colina inclinada demais, então tinha quase que me rastejar, e me apoiar nos matos, por as unhas na terra para subir. Kate subia mais rápido que eu, e já no topo me puxou, e pegou Emily no colo. Sentei no gramado, e olhei a cidade. Eu não sabia o que pensar.

As únicas luzes que dava para ver eram de carros do exercito e tiros que eram disparados a todo o momento. Alguns helicópteros rondavam o céu, iluminado algumas partes. Havia diversos carros correndo para fora da cidade, desesperados, na maior velocidade que podiam, mas o engarrafamento era quase obvio.

Kate em seu desespero desceu o resto da colina em desespero, cansada e suja de terra. Emily em seu colo agora começara a chorar, e eu corri atrás delas. Vi kate falando com alguns motoristas, pedindo carona, ajuda. Eu não podia deixa-la ir com quem quisesse e levar Emily. Era perigoso demais, e já me sentia responsável pelas duas.

- KATE! - Gritei, e ela olhou pra trás enquanto o motorista saia com seu carro pela estrada.- Eu estava quase conseguindo caronas com eles!- Você não pode pegar carona com qualquer pessoa que ver por aí, garota! - Peguei Emily no colo que parou de berrar.- Hey, se você não percebeu é o fim do mundo, e eu não quero ficar aqui pra ser devorada ou morta! Me devolve a Emily.- Não. Se você quer ir de carona com um estranho, vá sozinha.- Tudo bem! Eu não ligo pra isso mesmo.

E se afastou de volta para os carros. Tinha mudado o comportamento ao extremos em segundos. Emily agora chorava se parar, e parecia estressada. Caminhei pela beira da estrada até um grupo de homens armados e vestidos com roupas do exercito. Pedi informação, ajuda, e o homem gritou comigo, com raiva, cuspindo em minha face e fazendo Emily chorar ainda mais. Mandava-a calar a boca, e me afastei, com medo de ser morta ali mesmo. Fiquei sentada na beira da estrada chorando abraçada a Emily, que tinha ficado quieta novamente. Eu estava exausta.

Depois de um tempo, comecei a ouvir a voz de uma mulher gritando ao longe, enquanto lanternas eram apontadas ao meu rosto e corpo. - Emily! Emily! - A mulher gritava, e logo a criança foi arrancada dos meus braços. A mulher agradeceu a mim a vagamente, e correu para seu carro levando a criança. O meu último pingo de esperança havia ido embora, e eu estava sozinha. De novo. Como sempre tinha sido na minha vida. Então um dos homens armados que antes tinha me expulsado me pegou pelo braço dizendo que conseguira um espaço pra mim em um dos carros.

- Cadê a criança?- Não está mais comigo.- Melhor assim.

Talvez fosse, pensei. Fui colocada na traseira de uma caminhonete, junto com mais 7 ou 8 pessoas. Todos estavam calados, e depois que os carros foram pegando as estradas que mais lhe davam segurança ou esperança, nosso carro ficou sozinho em uma longa e reta estrada. Ninguém falava. Ninguém chorava. Só se ouvia o barulho do carro e do motor.

- Ah não.

Um homem falou, espiando por cima da cabine da caminhonete. Olhei também. Uma iluminação rápida se aproximava. Mais de 40 das lesmas estavam vindo em nossa direção. O motorista dava a ré, mas alguém gritou e ele freou. Atrás de nós também vinham uma manada delas. Todos pularam do carros começaram a correr em todas as direções. Corri junto com mais três homens para a floresta, mas logo um senhor ficou pra trás e ouvimos seu grito ecoando enquanto um dos animais o tocava. Eu consegui ver, mesmo a certa distância, que o homem parecia simplesmente dissolver ao toque do ser. Os gritos era cada vez mais constantes e então me vi sozinha e cercada.

Foi rápido. Eu senti uma dor na coluna, mas não era tanta dor quanto eu esperava. Mas o grito que eu dei era alto, mesmo que eu não quisesse, minhas cordas vocais simplesmente não me respondiam. Pela primeira vez naquele dia, o meu medo era me calar, pois eu sabia que assim que parasse, estaria morta. Pensei em Emily. E em Kate. Nos meus pais que não via a tanto tempo, e só agora senti falta deles. Meus poucos amigos. Eu tinha ficado sozinha por pouco tempo naquela noite, mas os minutos em silêsncio foram o de maior solidão na minha vida. O silêncio foi tanto que fiquei surda.

Fonte: Creepy Group ò.ó